Confira os conselhos que Jorge
Paulo Lemann deu a um grupo de empreendedores apoiados pela Endeavor.
Acho que seu sonho de conquistar os
mercados do Brasil e América Latina é um pouco limitado… eu olharia para o
mundo”. Foi assim que Jorge Paulo Lemann respondeu um empreendedor que
perguntava sobre a expansão de sua empresa em uma sessão de mentoria coletiva
promovida pela Endeavor na última semana.
Jorge Paulo Lemann e seus sócios Beto
Sicupira e Marcel Telles são donos de algumas das maiores empresas do mundo e
praticam diariamente o lema “Sonhar grande e sonhar pequeno dá o mesmo
trabalho”. Ele diz ter três metas de vida: deixar algum marco significativo na
área de educação, empresas sólidas com possibilidades de se perpetuarem e uma
família produtiva que tenha responsabilidade sobre aquilo que receber.
Lemman acredita profundamente na
educação e no empreendedorismo como a base para um país andar para frente. Não
é à toa que se dedica a projetos como a Fundação Estudar, Fundação Lemann, Khan
Academy e a própria Endeavor. Em uma sessão de mentoria coletiva com alguns
Empreendedores Endeavor, Jorge Paulo ouviu desafios e perguntas, compartilhou
histórias e deu conselhos com uma simplicidade admirável.
Confira os principais aprendizados dessa conversa:
1 – Crise não é motivo de desespero
“O Brasil nunca é tão bom quanto
poderia ser, mas também não é tão ruim quanto falam. Podemos não estar no
melhor momento, mas as maiores operações que tivemos foram em época de crise. O
mercado e os empreendedores do Brasil são muito bons, então é melhor olhar para
frente, ver como aproveitar qualquer dificuldade e o que é possível fazer a
mais”.
2 – Quando for buscar investimento, não olhe só para o dinheiro
“Gosto de sócio que trabalha e
contribui. Como empreendedor, eu olharia para um investidor de Private Equity
ponderando se ele quer apenas colocar dinheiro ou se será um sócio que vai
trazer algo a mais – algum know how específico, se tem um outro investimento
parecido que possa trazer experiências… Quanto ao momento certo para abrir as
portas, quanto mais conseguir engordar o porquinho antes de buscar dinheiro dos
outros, melhor. E se for buscar, não olhe só para o dinheiro, entenda o que de
valor ele poderá agregar ao negócio”.
3 – Equilibre a vida pessoal e profissional
“Sou um cara muito organizado e
disciplinado. Sempre pratiquei esporte, pelo menos uma hora por dia, seja o que
estiver acontecendo no mundo. Além disso, sempre fui muito participativo com a
minha família, deu tempo de fazer e criar seis filhos. Um certo equilíbrio é
importante. Delego muito: nunca fiz questão de ser o cara que fazia tudo.
Gastei mais tempo escolhendo e formando gente muito boa, para eventualmente dar
oportunidades a eles e ter mais tempo para mim.
O segredo talvez seja ter uma mistura
de disciplina e regras com base no que se quer fazer (e pessoas são diferentes,
então tem que fazer regras que façam sentido para você) e ter equipes que
possam transformar uma empresa”.
4 – Formar gente boa é o melhor negócio que se faz
“O empreendedor tem que dar grande
importância ao tópico de gente. Geralmente, ele olha mais para custos e vendas
e contrata alguém de RH para se ocupar do assunto. Gente é algo em que o dono
tem que estar envolvido.
Na época do banco, eu entrevistava
1.000 pessoas por ano e as acompanhava. Hoje em dia, a AB InBev tem 150 mil
pessoas e, até quando vai para a China, o Conselho vai tomar café com os
trainees de lá; é essencial essa mentalidade de que gente é realmente importante.
O Carlos Brito, CEO, também é extremamente ligado: ele sabe de cor a lista dos
‘High Potentials’ da empresa, tem uma ideia de quais são os trainees bons, onde
estão, e como estão evoluindo. O Conselho discute uma vez por ano as 500
principais pessoas da empresa, o que elas têm de bom e em que precisam evoluir.
Gente é tão importante quanto vender,
é tão importante quanto produzir barato. E se delegar para alguém,
provavelmente não vai dar certo”.
5 – Cultura não se impõe, cria-se em conjunto
“Nós temos programas de trainees nos
EUA, China, Europa… Então apesar de sólida e firme, nossa cultura nem é mais
brasileira, mas sempre foca em formar gente boa.
Sempre dedicamos um esforço enorme
para treinar pessoas novas. Quando fomos para a Argentina (na compra da
Quilmes), mandamos vários brasileiros que tinham sido ‘criados em casa’. Para
os EUA, foram 100 pessoas de todo o mundo, mas já dentro da nossa cultura. No
entanto, em nenhum lugar chegamos impondo que ‘nossa cultura vai ser assim’.
Falamos ‘a nossa é assim, como é a de vocês?’, e a partir daí desenhávamos uma
cultura organizacional comum.
Toda empresa tem gente boa e gente
ruim: você tem que saber diferenciar o quanto antes e tomar as medidas
necessárias, mesmo que termine em demissão. Em uma fusão nos Estados Unidos,
por exemplo, entrevistamos as 400 pessoas do topo da empresa e ficamos com 200,
mais ou menos.
O foco é remar junto, e tem funcionado
bem assim”.
6 – Venda seu sonho grande
“Sempre vendi o sonho muito maior do
que o tamanho da empresa; é claro que se você vende um sonho que não chega nem
perto da realidade, a turma não acredita. Se você vende o sonho que é difícil,
mas que é atingível, melhor. Assim, você vai aumentando de sonho em sonho,
engajando todo mundo, conforme a empresa cresce. Nós gostamos de metas anuais
‘esticadas’. Tem que ser esticada, mas não impossível”.
Por: ENDEAVOR BRASIL